Certa vez, conversando com um grande amigo e cliente que tenho, este me disse uma frase bastante verdadeira:
“Uma venda começa no pedido e só termina em seu pagamento”.
É verdade. E quem tem um negócio no Brasil, precisa se acostumar que nem sempre uma venda é só flores e as vezes, pode ser uma verdadeira confusão.
O calote é instituído como exemplo pelo próprio governo, haja visto as situações que vemos e as próprias leis que regem o comércio no país.
Até pouco tempo atrás, tínhamos a famosa concordata, que um empresário em dificuldades financeiras solicitava ao poder judiciário e recebia graciosamente uma blindagem jurídica que impedia qualquer ação punitiva por parte dos credores durante dois anos.
Proteção ao temerário
Agora me diga uma coisa:
Se um empresário possui bens suficientes e que foram comprados com o dinheiro da empresa em dificuldades, não deveria vendê-los, retornar o dinheiro para empresa e pagar seus compromissos?
No Brasil não. Quem deve pagar o prejuízo, são os coitados dos fornecedores que atenderam essa empresa, pois terão que ficar durante dois anos a ver navios e pagando suas contas, sabe lá Deus como.
Além do fato de terem todo seu futuro financeiro comprometido, pois precisarão buscar nos bancos, os recursos que ficaram presos em um processo dessa natureza.
E isso, certamente acarretará o pagamento de altos juros aos bancos que concederem esse socorro.
Será que quem inventou essa lei pensou nos outros ou em si mesmo?
Até quando nosso pensamento será de forma injusta?
Então é certo um empresário usar o dinheiro da empresa de forma temerária, pedir arrego a justiça afirmando que não conseguiu vender seus produtos e esta conceder-lhe dois anos de regalia?
Ora! Faça-me um favor. Acho que primeiramente o que deveria ser julgado, seria o comportamento desse empresário frente a corporação que administra e juntamente com isso, serem analisadas as reais situações que o levaram a banca rota e depois sim, verificar as possibilidades de ajuda ou não a essa empresa.
Mas essa ajuda, deveria ser de forma que seus fornecedores não fossem penalizados por um erro que não cometeram e o empresário, responsabilizado pela má administração frente a sua empresa.
Já vai longe o tempo que um advogado assustava alguém. O negócio hoje em dia é o seguinte: “Devo não nego e pago quando puder”.
Por isso, a análise de crédito se tornou uma valiosíssima ferramenta dentro de uma corporação e no mercado.
Não venda absolutamente nada para ninguém, sem antes saber para quem está vendendo. Isso é estratégico.
E mesmo que seja um cliente habitual, a cada pedido, puxe a capivara dele e veja como anda seus pagamentos aos outros fornecedores.
Lembre-se: Hoje o cliente está bem, mas amanhã pode estar mal e você não vai querer participar da dor de barriga dele.
Vender fiado é uma arte.
Meu sogro sempre me dizia :
– Se não vendermos fiado, não vendemos a ninguém.
O ramo de bares sempre foi o ramo do meu sogro desde que chegou ao Brasil.
Eu sempre discordei da posição dele, principalmente porque nesse ramo a mercadoria desaparece no dia seguinte de seu consumo.
Geralmente vai via vaso sanitário e nunca mais temos notícias, ou seja, se o camarada não te pagar, você não tem como recuperar a mercadoria.
Certa vez, um bêbado que era cliente do bar de meu sogro, morreu.
O sujeito, na época, devia para ele R$ 500,00 ( Quinhentos reais ).
O que em pingas, significava que ele havia bebido 1000 pingas a R$ 0,50 cada, sem pagar uma gota sequer, do que tinha bebido.
Meu sogro ao saber da morte do coitado, soltou a frase:
– Eu já o perdoei – Grande Serafim, coração de ouro.
Mas no mundo corporativo, muitas vezes a morte de um cliente, pode significar nossa própria morte, dependendo do nível de comprometimento que tivermos com ele.
Portanto, aqui deixo dois conselhos:
Apesar de ser cômodo e parecer que os custos ficam mais baratos, nunca é bom vendermos à um só cliente. Nunca coloque todos os ovos em um único cesto.
E sempre que vender, mesmo que o cliente seja idôneo, puxe a capivara do crédito para ver se ele continua pagando seus compromissos.
Nunca se esqueça disso.
Regi Martins
Regi Martins é tecnólogo em mecânica industrial, ex-empresário do setor de vestuário, além de músico e Life Coach formado pela Sociedade Brasileira de Coaching. Adora tudo que tem relação com negócios e empreendedorismo.